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19 de Abril de 2024

Direitos violados: professor demitido por não chamar aluna trans de “ele” processa escola

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bit.ly/2p3u83y | O professor Peter Vlaming ensinava francês há 7 anos na West Point School e era muito querido pelos alunos, mas acabou sumariamente demitido depois de um episódio em que uma estudante trans ficou chateada porque ele errou o pronome pelo qual preferia ser chamada. Disse ela no lugar de ele. O que poderia ser um evento isolado em uma escola da Virgínia transformou-se numa discussão nacional sobre liberdades e tolerância: são uma via de mão dupla ou valem apenas para algumas categorias sociais?

O professor é religioso e, por isso, tem dificuldade para utilizar o pronome masculino para se referir à estudante que biologicamente é uma menina - ainda não atravessou a puberdade. No caso específico, o problema não era que o professor se referisse à estudante pelos pronomes femininos, mas que se recusasse a utilizar os masculinos. O ultimato da escola foi para que "parasse de evitar o uso de pronomes masculinos" ao se referir à estudante.

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Não estamos falando de um fundamentalista ou insensível: Peter Vlaming sempre chamou a estudante por seu nome social, masculino. Aliás, chama todos os estudantes pelos nomes que escolhem ser chamados. Perdeu o emprego porque parou de usar pronomes ao se referir a eles.

É aí que a questão das liberdades fica mais interessante. Esse professor morou durante 11 anos na França, era de se esperar que as soluções dele, aprendidas na Europa fossem chocantes para a população do interior dos Estados Unidos. Mas o choque esperado - pelo menos por mim - era o oposto, que ele fosse progressista ou avançado demais para aquele lugar.

Segundo relata o Washington Post, o professor não havia tido nenhum problema de relacionamento na escola antes da metade do ano passado, quando a aluna anunciou que havia feito uma transição de gênero e agora era um menino. Pediu a Peter Vlaming diretamente que passasse a usar os pronomes ele e dele, além do nome masculino. A parte do nome foi atendida imediatamente, mas o professor tinha dificuldade com os pronomes por crença religiosa. Decidiu então não usar mais nenhum pronome naquela sala.

A escola não gostou da solução, queria obrigar o professor a utilizar os pronomes masculinos e chegou a dar um ultimato: ou ele dizia textualmente "ele" e "dele" para se referir à aluna trans ou enfrentaria um processo administrativo. Não foi necessário iniciar o processo. Em uma aula na qual todos os estudantes utilizavam óculos de realidade virtual, ao ver a aluna trans quase se acidentando ao bater na parede, ele gritou: "Não deixe ela bater na parede". Era o princípio do fim.

A aluna transgênero chegou a debater com o professor sobre o ocorrido. Disse que compreendia as crenças religiosas do professor, mas que isso não o isentava de respeitar quem seus alunos são. Ele disse apenas que era muito difícil utilizar os pronomes masculinos naquele caso.

A aluna procurou a diretoria e pediu para sair das aulas de Peter Vlaming. A direção chamou o professor e pediu que ele mentisse. "Você sabe o que tem de fazer numa situação complicada como essa? Você diz: 'Desculpa, eu queria falar ele'." - instruiu o diretor, de acordo com o que a defesa do professor alega no processo movido contra a escola. Ou seja, a escola claramente instruiu o professor a abrir mão de suas convicções religiosas e mentir para seus alunos.

De acordo com o jornal britânico Guardian, o diretor da escola, Jonathan Hochman, disse em uma reunião do Conselho que estava inclinado a demitir o professor porque não podia pensar "em uma maneira pior de tratar uma criança do que essa que estava acontecendo". Depois da demissão, a superintendente educacional de West Point, Laura Abel, declarou que "discriminação leva a um ambiente educacional hostil. E a estudante expressou isso, os pais expressaram isso. Eles se sentiram desrespeitados".

O ativismo de sofá entrou em cena logo em seguida. Surgiram abaixo-assinados online contra e a favor do professor. Aproximadamente 100 estudantes fizeram uma passeata ao redor da escola com cartazes dizendo: "Homens são homens. Mulheres são mulheres." Pense em um ambiente educacional hostil.

No processo, o professor pede US$ 1 milhão em danos morais, o emprego de volta e uma declaração de que seus direitos religiosos foram violados. Peter Vlaming acredita que "se referir a uma mulher utilizando um pronome masculino é uma mentira". A defesa do professor é feita pela Alliance Defending Freedom e tem como ponto central uma pergunta: escolas públicas podem obrigar professores a contradizer publicamente suas convicções religiosas? Sem dúvida, um debate que interessa a todos.

Por Madeleine Lacsko

Gazeta do Povo

Fonte: www.gazetadopovo.com.br

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